segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Conto sobre Liberdade...

Fui pego, invadiram meu barraco. Eu ainda dormia quando abri os olhos e uma arma já apontava para minha cabeça.
Me rendi, talvez se não houvesse arma tentaria correr. Um dos policiais me olhou e disse: “esse deve agüentar bastante”, não entendi.
Levou-me para dentro e pediu-me dinheiro, pois disse que não queria me prender, não hoje. Não respondi, não ia dizer nada sobre droga, nem sobre dinheiro.
Me bateram, e bateram muito. Na verdade não seria exagero algum dizer que me espancaram. Quatro policias se revezavam para me bater, aparentemente parece que bater também cansa.
Mas eu não tinha com quem revezar, era o único alvo. Pensei em reagir, mas seria um erro que talvez eu tivesse que pagar com minha própria vida.
Eles eram espertos, sabiam onde bater. Batiam onde não deixariam marcas para que a sociedade não pudesse ver a atrocidade que cometiam.
Quando Já não conseguia mais respirar de tantos socos, eles me pedia para chorar ou se não parariam, mas não tinha forças nem mesmo para chorar e por isso apanhava mais e mais.
Vendi droga, eu errei, eu sei. Mas por vezes acredito que não pude seguir outra oportunidade, pois precisava ganhar dinheiro rápido, mas eu nunca machuquei ninguém.
De repente pararam de me bater, acho que cansaram ou ficaram com medo que eu morresse na mão deles.
Fui levado para a delegacia, o relato dos policias era quase hilário, disseram que “entraram” na minha casa e com toda “educação” e me “abordaram”. Faz- me rir.
Bom, como sou menor de idade vocês já devem saber a onde fui parar.
Fui privado da minha liberdade. E agora o que fazer quando não se tem liberdade?
Liberdade é uma das coisas que só sentimos falta quando perdemos. Nunca valorizei de verdade momentos como um passeio na rua, um futebol no campinho ou simplesmente observar as pessoas indo e vindo.
Mas lá, a falta de liberdade era total. Raspavam a minha cabeça toda segunda-feira, eu tinha que avisar quando ia ao banheiro e o que ia fazer lá e ainda assim alguém me vigiava enquanto eu fazia as minhas necessidades.
Banho, só gelado e na frente de funcionários e outros meninos.
Fiquei meses sem ver o céu azul. Alguns dias nos permitiam sair em um pátio gramado, mas era raro.
Mas quando acontecia também, era a maior alegria! Só de poder se respirar o ar livre, ver o céu azul, sentir o sol... Ah que alegria!
Ás vezes de algum ponto dava para ver a rua, os carros passando, era estranho pensar que eu estava ali, tão longe daquele mundo.
Acordava todos os dias as 5h30, sem choro nem vela. Também tínhamos que se deitar as 9h30, deitar e dormir, depois desse horário não podíamos nem mesmo conversar enquanto o sono não vinha.
O canguru era obrigatório, várias vezes ao dia. O que é canguru? É uma revista em que devemos ficar pelados, agachando no chão para se verificar se não escondíamos nada no corpo, se é que vocês me entendem.
Por vezes quis esquecer que estava lá, fingia que não estava preso, tentava imaginar que estava em outro lugar, um lugar bacana, sei lá acho que era o jeito que eu inventava para poder lidar com tudo isso.
Foram 8 meses assim: Sem sol, sem céu, sem privacidade. Sem LIBERDADE.

Autor: Nenê

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